"Como me sinto? Como se colocassem dois olhos sobre a mesa e dissessem a mim, a mim que sou cego: isto é aquilo que vê. Esta é a matéria que vê.Toco os dois olhos em cima da mesa. Lisos, tépidos ainda (arrancaram há pouco), gelatinosos. Mas não vejo o ver. Assim é o que sinto tentando materializar na narrativa a convulsão do meu espírito."
(Hilda Hilst)
a todos os poetas que já mancharam guardanapos com versos espúrios:
a morte,
ou menos:
uma leve ressaca moral
algumas dúvidas tenazes
suores nas mãos
pigarro e
caspa.
não é o bastante a lua luzir
ela deve dançar
a matemática forjou a lua
as leis do mercado a supõem
a lua deve ter o comprimento da vida
e o tamanho dos dedos dos pés
a fécula lunar fecunda o atlântico
enquanto as gaivotas defecam no lixo
come metafísica, menina
come metafísica
olha que não há
chocolates
na mercearia
come metafísica